24 de jan. de 2009

Viagem 01 - Macapá

Quando o rio deixa.

Em fevereiro de 2008 estive em Macapá.

Sempre ouvimos que o Brasil são muitos "Brazis".
Não sou uma pessoa tão viajada, assim sempre achei o Brasil um só Brasil: meu ponto mais ao Sul, estive pelos lados de Blumenau SC; mais ao Norte São Luiz MA; mais ao Leste Natal RN; e mais ao Leste Cuiaba. Diferenças? muitas. Mas não tinha a impressão de ter saido de uma expectativa. Estava, embora fascinado, me sentindo dono do território. Tudo sob controle.
Aí, a trabalho, fui para Macapá AP.
Sim, são Brazis. Um outro mundo. Para começar a escala em Belém PA. A visão do encontro das águas, enormidade de águas, e o povo ali, morando nas palafitas. A mata emoldurando a cidade.
Depois Macapá. O mesmo cenário, só que lá as águas já se encontraram. Quem serpenteia a cidade (aqui em Goiânia temos os corregos Botafogo, Anicuns, Capimpuba, Buritis...) é o ... não tinha ligado cré com lé.
Quando chegeui, de noite, não tive idéia daquilo. Na manhã seguinte fui trabalhar. Um calor, uma umidade... às 6:00h você está suado. A virilha está "assada", a camisa não fica seca hora nenhuma, o Sol parece estar a 10km de você. E sempre a pino. E um cheiro de frescor. Embora estivesse me sentindo em um caldeirão tinha a sensação de nunca estar tão amplamente livre.
O horizonte é linear, nada "aponta", obstrui. Suado, cansado da longa viagem e do dia de trabalho retorno ao meu quarto de hotel. Lá, comigo (no hotel} 4 colegas com os quais fui aprender uma rotina de trabalho: Alexandre, Zé Maria, Zé Olimpio e Eduardo. Depois de um banho de água natural, chuveiro elétrico é equipamento desnecessário, funcionaria como um vaporizador, fomos jantar.
Pegamos a orla e via ao meu lado esquerdo um rio e, além dele, só escuridão. O rio corria contra o nosso trajeto. Sentia novamente a sensção de estar livre. Achava que alí era uma rota de fuga para o mundo. O (0xo). Estava no cruzamento das abcissas com as ordenadas. Estava no ZERO.
A virilha ainda mais assada!
Depois de algumas (poucas) cervejas jantamos um peixe com arros e purê de batata. Ao voltar o rio corria no nosso sentido.
Estava conversando e ao mesmo tempo encabulado: aonde estaria o rio Amazonas, como eu faria para, naquele braço de rio, alcançar o "maior do mundo"?
Antes de retomar o caminho para o hotel, entrigado e disperço com uma farça que me entimidava, questionei,' que rio é este?'
Estava debaixo desta nuvem. Claro q não neste dia e hora!

-'O Amazonas, ora'.
-'Sério, como faço para chegar no Amazonas?'
-'Atravesse a rua'.
-'Sério, lógico que vejo um braço dele logo aqui, um,digamos afluente...'
-'Logo alí é o Amazonas.'
-'Tá, deixa quieto.'
Pensei: o 'Amazonas é um mundo de água, não tem margem firme, como posso estar comendo um peixe a 15 metros dele?'
-'Bora?'
-'Bora.'
Aquela água estava ao lado, agora corria contra nosso caminho.

No hotel liguei para casa, falei com minha mãe, contei que estava a umas cinco quadras do Amazonas.
A virilha estava um peteco.
Ela titubiuou: 'Acho que não é bem asim!'
Disse: 'também acho, a turma tá me fazendo de bobo.'
ewton estava certo: massa atrai massa.
Não dormi nadinha, estava me sentindo torto na cama, pendendo, caindo.
Vontade de ligar de novo em casa e podir para minha mãe rever os calculos. Eu cai nessa viagem de um dia para o outro, não foi planejado... cheguei aqui meio zonzo.
Como o Brasil é enorme, 'estou em um quartinho de hotel, a virilha fudida, quanta umidade,
vou dormir, ainda está passando a novela... aqui são 2h a mais de fuso. quanto é grande o nosso Brasil?'
Desci e pedi um leite quente com Toddy. Fui atendido, virei o copo, e enquanto isso, ouvia na copa as pessoas muito entusiasmadas. Já tinha ouvido uns foguetes no final da tarde.
Era jogo da Copa do Brasil: Trem x Atlético Paranaense.
Liguuei meu radinho no quarto. O narrador era muito bom. O estádio era bem próximo, dava vontade de ir lá.
Pensei: 'que Brazis que nada. Que Brasil pequeno! Adoro isso!'
O jogo ficou no oxo.
Desliguei meu radinho e fui dormir.
De manhã, bem cedo, acordei, engoli o café da manhã e fui para a orla.


Agora sim, tinha certeza que era ele, eu sabia. Havia algo que me inquietava: não era medo, era uma angústia, uma reverência, uma profunda gratidão a Deus, uma certeza de que sou apenas uma virgula no universo... sentia a vida, nunca senti tanta vida... me senti uma parte da grande criação!!!
Confeço que chorei por umas duas horas. Chorei ao ponto de ter de me esconder em um canto.
Nesta hora o rio corria para o outro lado, para o mar. A maré do oceano tinha baixado e ele seguia seu caminho.
Fui trabalhar, de noite liguei para casa. Minha mãe confirmou que realmente o Amazonas desalguava alí, onde eu estava.