Em fevereiro de 2008 estive em Macapá.
Sempre ouvimos que o Brasil são muitos "Brazis".
Não sou uma pessoa tão viajada, assim sempre achei o Brasil um só Brasil: meu ponto mais ao Sul, estive pelos lados de Blumenau SC; mais ao Norte São Luiz MA; mais ao Leste Natal RN; e mais ao Leste Cuiaba. Diferenças? muitas. Mas não tinha a impressão de ter saido de uma expectativa. Estava, embora fascinado, me sentindo dono do território. Tudo sob controle.
Aí, a trabalho, fui para Macapá AP.
Sim, são Brazis. Um outro mundo. Para começar a escala em Belém PA. A visão do encontro das águas, enormidade de águas, e o povo ali, morando nas palafitas. A mata emoldurando a cidade.
Depois Macapá. O mesmo cenário, só que lá as águas já se encontraram. Quem serpenteia a cidade (aqui em Goiânia temos os corregos Botafogo, Anicuns, Capimpuba, Buritis...) é o ... não tinha ligado cré com lé.
O horizonte é linear, nada "aponta", obstrui. Suado, cansado da longa viagem e do dia de trabalho retorno ao meu quarto de hotel. Lá, comigo (no hotel} 4 colegas com os quais fui aprender uma rotina de trabalho: Alexandre, Zé Maria, Zé Olimpio e Eduardo. Depois de um banho de água natural, chuveiro elétrico é equipamento desnecessário, funcionaria como um vaporizador, fomos jantar.
Pegamos a orla e via ao meu lado esquerdo um rio e, além dele, só escuridão. O rio corria contra o nosso trajeto. Sentia novamente a sensção de estar livre. Achava que alí era uma rota de fuga para o mundo. O (0xo). Estava no cruzamento das abcissas com as ordenadas. Estava no ZERO.
A virilha ainda mais assada!
Depois de algumas (poucas) cervejas jantamos um peixe com arros e purê de batata. Ao voltar o rio corria no nosso sentido.
Estava conversando e ao mesmo tempo encabulado: aonde estaria o rio Amazonas, como eu faria para, naquele braço de rio, alcançar o "maior do mundo"?
Estava debaixo desta nuvem. Claro q não neste dia e hora!



-'O Amazonas, ora'.
-'Sério, como faço para chegar no Amazonas?'
-'Atravesse a rua'.
-'Sério, lógico que vejo um braço dele logo aqui, um,digamos afluente...'
-'Logo alí é o Amazonas.'
-'Tá, deixa quieto.'
Pensei: o 'Amazonas é um mundo de água, não tem margem firme, como posso estar comendo um peixe a 15 metros dele?'
-'Bora?'
-'Bora.'
Aquela água estava ao lado, agora corria contra nosso caminho.
No hotel liguei para casa, falei com minha mãe, contei que estava a umas cinco quadras do Amazonas.
A virilha estava um peteco.
Ela titubiuou: 'Acho que não é bem asim!'
Disse: 'também acho, a turma tá me fazendo de bobo.'
Não dormi nadinha, estava me sentindo torto na cama, pendendo, caindo.
Vontade de ligar de novo em casa e podir para minha mãe rever os calculos. Eu cai nessa viagem de um dia para o outro, não foi planejado... cheguei aqui meio zonzo.
Como o Brasil é enorme, 'estou em um quartinho de hotel, a virilha fudida, quanta umidade,
vou dormir, ainda está passando a novela... aqui são 2h a mais de fuso. quanto é grande o nosso Brasil?'
Desci e pedi um leite quente com Toddy. Fui atendido, virei o copo, e enquanto isso, ouvia na copa as pessoas muito entusiasmadas. Já tinha ouvido uns foguetes no final da tarde.
Era jogo da Copa do Brasil: Trem x Atlético Paranaense.
Liguuei meu radinho no quarto. O narrador era muito bom. O estádio era bem próximo, dava vontade de ir lá.
Pensei: 'que Brazis que nada. Que Brasil pequeno! Adoro isso!'
O jogo ficou no oxo.
Desliguei meu radinho e fui dormir.
De manhã, bem cedo, acordei, engoli o café da manhã e fui para a orla.
Confeço que chorei por umas duas horas. Chorei ao ponto de ter de me esconder em um canto.
Nesta hora o rio corria para o outro lado, para o mar. A maré do oceano tinha baixado e ele seguia seu caminho.
Fui trabalhar, de noite liguei para casa. Minha mãe confirmou que realmente o Amazonas desalguava alí, onde eu estava.